quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Tudo novo de novo

Sei que faz muito tempo que não escrevo aqui (acho que este foi o maior tempo que fiquei sem postar...), mas tanta coisa aconteceu nos últimos tempos que o tempo mudou de cara e foi comendo a gente pelas beiradas. É engraçado isso... A vida em Montréal tem um ritmo próprio, pelo menos pra nós. Tudo aqui parece mais intenso e o tempo passa mais rápido. Quando você vê, a semana já acabou e o fim de semana tem um jeitão de trailer, apesar da imensa quantidade de novas experiências que vivemos aqui diariamente.

Vamos completar 5 meses aqui e bastante coisa mudou desde então. Vamos por partes:

Estudo
Ser professora me fez muito feliz durante quase sete anos, mas já no Brasil eu não estava mais me sentindo realizada na profissão. Sabe quando você começa a ir pro trabalho tendo que fazer um esforço pra gostar daquilo? É verdade que quando eu entrava em sala de aula esse "sofrimento" muitas vezes desaparecia, principalmente nas turmas com que eu mais me identificava, porque ser professor é uma experiência realmente fantástica, mas em certo ponto da história eu percebi que precisava de uma mudança na minha vida profissional. Foi quando, há pouco mais de dois anos, me encantei pela Tradução e, graças a uma ex-professora da faculdade que mais tarde se tornou uma grande amiga, a Paula, pude começar a trabalhar como tradutora no Brasil. "Pronto", pensei, "encontrei a mudança que eu estava procurando". Assim sendo, decidi que, quando chegasse aqui, continuaria trabalhando como professora até concluir a faculdade de Tradução (que eu já havia começado a procurar ainda do Brasil), entrar pra Ordre des Traducteurs, Terminologues et Interprètes Agréés du Québec e poder trabalhar como tradutora juramentada em Montréal.

Mas pouco tempo antes de vir pra cá eu me senti ainda em dúvida sobre o que queria fazer. O lance é que sempre gostei de Design, Artes e cheguei a trabalhar com isso durante algum tempo no Brasil, logo que voltamos daqui de Montréal em 2006. O primeiro vestibular que pensei em prestar na minha vida foi pra Artes Plásticas, mas por achar que eu não passaria na prova de habilidade específica (porque até então eu não sabia nem pegar num lápis pra desenhar, só gostava mesmo da coisa) e por na época não ter tido grana pra pagar um curso de desenho, essa ideia acabou adormecendo pra dar lugar à minha aptidão pras Letras, coisa que tá no sangue da minha família. Só que o gosto por Artes sempre ficou ali, num canto, aparecendo de vez em quando junto com algumas habilidades artísticas... Logo antes de virmos pra cá, pensei em reconsiderar a decisão pela Tradução e, quem sabe, fazer um curso de Design. Pensei nisso durante pouco mais de um mês e acabei voltando pra Tradução.

Encontrei o curso de Tradução que eu queria na UdeM e lá fui fazer meu pedido de admissão. Pra ser admitida no curso de Tradução da UdeM, além da análise do dossiê acadêmico, tive que fazer um teste de admissão, uma prova de 18 páginas, metade em francês, metade em inglês. Um mês depois, recebi a notícia de que havia passado no exame e de que eu havia sido admitida. As aulas começaram na semana seguinte e lá fui eu, meio chocha, assistir à primeira aula. Muito legal, gostei muito da aula, do professor etc, mas eu tava me sentindo estranha... "será que eu quero ficar estudando gramática - porque a aula era de gramática do francês - durante mais cinco anos pra depois ficar traduzindo documento?". Entrei em crise pra valer... o pior é que tem hora em que a gente vive umas crises e não consegue enxergar do que aquilo se trata, né? Minha primeira aula foi numa terça-feira, o auge da crise se deu na quarta e na quinta já não voltei pra outra aula que eu tinha neste dia. Foi assim. Depois de chorar rios de angústia por não entender o que tava acontecendo comigo e de muita conversa com o Wal, percebi que eu já sabia o que eu queria fazer e não tava tendo, talvez, coragem pra fazer: mudar de área, recomeçar tudo do "zero" numa nova profissão. Na semana seguinte, pedi a anulação do curso de Tradução (existe um prazo pra você fazer isso antes de ter que pagar a primeira tuition, e o meu prazo ainda tava rolando), o que não foi fácil mas causou em mim uma alegria instantânea, ao mesmo tempo. Naquele momento me senti libertada e, com o passar dos dias, toda aquela angústia foi sendo substituída por um gás novo e um ânimo pelo que de desconhecido viria pela frente.

Pesquisas feitas, percebi que os cursos de Design aqui eram muito específicos, longe do que eu tava procurando. Foi então que encontrei um curso de Artes Plásticas na UQÀM e amei a grade de disciplinas. Na sexta-feira passada recebi a resposta do pedido de admissão que eu havia feito uma semana antes e, tcharã!, fui admitida! As aulas começam em janeiro e eu não vejo a hora de começar tudo de novo!

O Wal tá feliz da vida fazendo Film Production na Concordia, como aluno independente (uma espécie de ouvinte), já que o período de inscrições pra sessão de outono deste ano já havia sido encerrado quando chegamos aqui. Como aluno independente, ele só pode estudar a temps partiel (6 créditos por sessão, o que equivale a duas disciplinas por sessão) até que ele seja admitido como aluno regular em setembro do ano que vem, mas todos os créditos que ele cumprir até lá serão considerados. Então, ao invés de ele esperar até setembro do ano que vem pra poder começar o curso como aluno regular, ele já está adiantando algumas disciplinas. Fica a dica pra quem perder o prazo do pedido de admissão: veja na universidade em que quer estudar se é possível entrar como aluno independente depois do período de admissão ter sido encerrado.

Além disso, o Wal começou ontem a Francisação. Se não me engano, ele entrou com o pedido de admissão na Francisação em julho e, até a semana passada, ainda não tínhamos recebido resposta (já estávamos achando que ele não seria chamado pra sessão de novembro). A turma é pequena, 16 alunos, e ele gostou muito da primeira aula.

Trabalho

Depois de ter trabalhado na escola de línguas como professora de francês, preparei algumas cartas de apresentação pra tentar uma vaga em outras escolas, mas foi justo neste período que eu decidi chutar o balde e o pau da barraca e mudar de profissão. Por isso, nem cheguei a imprimi-las. Tendo isso em vista, me concentrei em alguns empregos "genéricos" - secretária, recepcionista e hostess - e consegui uma vaga como hostess num restaurante. Já faz dois meses que tô trabalhando lá e, apesar de saber que não quero fazer isso por muito tempo, sei também que isso faz parte dos recomeços. Além disso, trabalhar lá tem sido uma experiência muito boa, a oportunidade de praticar o francês e o inglês o dia todo, desenferrujar o espanhol e fazer bons amigos (além de que eu sempre tive uma curiosidade por trabalhar como hostess, por sempre ter achado chique no úúúrtimo alguém que te recebe na entrada do restaurante... rs rs rs).

O Wal estava trabalhando como video-game tester (o emprego dos sonhos dele, até ele descobrir que o negócio não é tão divertido como ele pensava... rs) na Babel, uma empresa que testa jogos de vídeo-game pra outras empresas como a Ubisoft, por exemplo. Ele foi contratado como freelancer e lá ele ficou por quase um mês, até que agora achamos melhor ele se concentrar na francisação.

Fora isso, o frio por aqui tá chegando de mansinho. Tivemos duas semanas bem mais frias que o normal pra esta época e até tivemos flurry em dois dias. A paisagem muda a cada semana e muitas árvores já estão peladas.

Sobre a nossa vizinha silenciosa, digamos que o barulho diminuiu em torno de 70%, o que é muito bom, considerando que a gente pensava que a dor de cabeça fosse ser bem maior. O problema agora é com a vizinha do lado. Sim, quando você pensa que a coisa já tá ruim, ela ainda pode piorar... rs. Quase todos os dias, acordo pelo menos meia hora antes do alarme despertar com o choro de uma das filhas da vizinha do lado (e a criança chora por mais ou menos uns 15 minutos). Nessas horas, eu tenho que fazer um trabalho mental pra controlar o nervosismo (pensa numa pessoa que fica nervosa quando é acordada...) que me faz querer catar qualquer coisa e bater na parede até a criança parar de chorar. Definitivamente, gostamos muito do nosso apartamento, mas vamos nos mudar assim que for possível.


Gros becs,

B.

4 comentários:

Bea disse...

Menina... que loucura!!! Quanta mudança!! =D

Mudar é bom, apesar de muita gente não gostar por causa das incertezas, mas marasmo na vida da gente é terrível.

Acho que todo mundo que imigra pensa a mesma coisa, que por aí, as chances de recomeçar e se arriscar são maiores. Vem na cabeça aquele pensamento de "eu já fiz toda essa mudança mesmo, pq não mais uma?"... eu tb já estou bem instisfeita com a minha profissão faz um tempo e já tô pensando em fazer o que sempre quis... vamos ver como serão as coisas por aí!

Boa sorte pra vc nos novos caminhos, pra vc e pro Wal tb!

Bjos!!

Ilha e Bibi disse...

Nossa a mudança é assim mesmo, mas toda mudança é boa...Nós seres humanos temos um certo receio de mudar devido as incertezas, mas mudar é a melhor coisa que podemos fazer em nossas vidas.

Bonne chance!
Ilha.

O casal disse...

olá...

será q vcs poderiam falar um pouco mais sobre o emprego de "testador de video game"?? hahah sempre pensei como seria isso e q, definitivamente, seria um empregasso! Daí fiquei cabreiro com o q vc falou... q não é tão fácil e tal? Gostaria de saber, de curiosidade, como é o trabalho, o dia a dia e tal.

No mais, parabéns pelas decisões tomadas e bonne chance!

dunk femme disse...

vous fashion.thank pour le partage