quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Envio dos materiais sobre o Franglais

Oi, pessoal!

Obrigada a todos que deixaram comentários aqui sobre o último post (só estou podendo agradecer a alguns por aqui por não terem deixado e-mail ou não terem blog).

Realmente, essa questão do francês québécois dá pano pra manga, viu... principalmente se formos entrar na discussão sobre a presença da língua inglesa no Québec e sobre como muitos acreditam que isso represente uma ameaça à sobrevivência do francês na província (e ainda como essa condição toda tem raízes históricas profundas...).

Bom, preciso do e-mail dos interessados nos materiais pra que eu possa enviá-los a vocês!

Antes que eu me esqueça novamente... Un excellent 2010 à tous!

Bises,

B.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Curiosidades do Franglais Québécois

Antes de começar este post, respondendo (muito atrasada) à pergunta dO Casal sobre o emprego de video-game tester, bom, vou reproduzir aqui as impressões e os relatos do Wal. Ele trabalhou durante algum tempo na Babel e lá, sendo funcionário da empresa, não se pode entrar com vestimentas que tenham bolsos ou casacos. Quando você é contratado, você recebe um cartão magnético que te dá acesso às áreas restritas. Nestas áreas, além das vestimentas com bolsos, não se pode entrar com aparelhos eletrônicos: nada de ipod, celular, mp3 player e afins. Tudo isso deve ser deixado numa sala específica pra se guardar tais coisas. Na ocasião da contratação, o Wal assinou um extenso contrato que incluía várias cláusulas de sigilo no que diz respeito aos trabalhos efetuados na empresa.

Mas a parte que o Wal não achou muito divertida não se refere a nada disso. Ele sempre imaginou que neste emprego ficaria jogando vídeo-game o dia todo e, claro, se divertindo. Não que ele não se divertisse, mas o trabalho inclui essencialmente que o contratado jogue os jogos em busca de bugs, o que acaba tirando um pouco da graça de jogar vídeo-game. Caso se encontrem bugs, um bug report deve ser feito especificando-se o tipo de bug encontrado. O Wal me disse que há casos em que se joga o mesmo jogo durante vários meses. Ele até brincou dizendo "imagina você jogar Tetris durante quatro meses procurando e relatando bugs?". Essa é a parte que não é muito divertida do emprego, mas isso, é claro, varia de acordo com o ponto de vista, né?

Vamos ao post em questão, então.

Já há algum tempo, eu comecei a estudar sobre as questões sociolinguísticas do francês québécois. Quando eu trabalhava como professora de francês, eu sempre quis levar pros alunos outros referenciais de língua francesa que não fossem só os da França, e o fato de termos vivido aqui e de que retornaríamos pra cá como imigrantes aumentaram minha curiosidade sobre o assunto. Juntando a fome com a vontade de comer, fiz algumas pesquisas sobre o franglais no Québec e, aproveitando minha experiência aqui em 2005, preparei um minicurso que apresentei na ocasião da Semana de Letras na universidade em 2008. Poucos alunos se interessaram pelo tema, muito específico, mas o minicurso no fim das contas serviu mais para que eu pudesse satisfazer minha necessidade de conhecer mais a fundo as características gerais do francês daqui e estabelecer as diferenças com o francês da França, que é o que geralmente se aprende no Brasil.

Digo isso porque todos, sem exceção, que chegam a Montréal, mesmo tendo um nível avançado de francês, se assustam com o francês québécois, o que os faz questionarem-se "será que eu sei mesmo falar/entender francês?". Isso aconteceu comigo quando estivemos aqui pela primeira vez em 2005. Quando escutei o francês québécois pela primeira vez, juro, precisei de alguns segundos pra identificar que aquilo era francês.

Mas o engraçado é que, mesmo tendo feito diversas pesquisas (e ter morado aqui durante 8 meses em 2005 e estar aqui já há quase 7 meses), até hoje me pego rindo comigo mesma de algumas particularidades do francês daqui ou descobrindo novas expressões. É claro que agora a coisa toda é diferente. Em 2005 eu sofria pra entender o que as pessoas diziam aqui e achava que o problema pudesse estar comigo, até que um dia uma professora de francês, nascida na França, que tive aqui naquela época, me disse que até ela às vezes não entendia o que diziam pra ela. Hoje, posso dizer que estou à vontade com o francês québécois e meu sotaque já não é mais francês, surpreendentemente (ou não, porque é óbvio que você naturalmente absorve o jeito de falar do lugar em que você vive).

Outro dia, recebi dois turistas franceses no restaurante que começaram a me fazer perguntas sobre o Canadá, a população de Montréal etc. Conversa vai, conversa vem, eles me perguntaram de onde eu era. Quando eu disse que eu era brasileira, eles me disseram "mas você não tem sotaque de brasileira no seu francês. Seu sotaque é do francês québécois." Na hora caí pra trás... rs. Foi a primeira vez que alguém me disse que meu sotaque era québécois. Eu respondi "engraçado você dizer isso, porque já acharam que eu fosse francesa por causa do meu sotaque." O rapaz francês, na hora, disse "pas du tout, seu sotaque não é francês...". Finalmente, eu disse pra ele "realmente, acho que meu francês mudou e eu nem percebi... eu acho que é alguma coisa entre francês e québécois." Ele concordou comigo (depois de comparar o meu francês ao de uma das garçonetes québécoises que estava próxima de nós naquele momento), porque, realmente, eu ainda não cheguei ao ponto de falar tão nasalizado, de fazer tantas contrações e de misturar francês com inglês o tempo todo numa mesma frase, além de outras coisas.

Falei isso tudo (já tentei, mas na hora de contar história eu não consigo ser sucinta... rs) pra dizer que venho coletando alguns "exemplares" do francês québécois (ou franglais) pra colocar aqui no blog. Vou começar por um que achei muuuito engraçado e que me deixou a ver navios durante alguns segundos... (vou reproduzir vulgarmente aqui a pronúncia de algumas palavras).

Estava eu no restaurante. Um cliente vem a mim e me pergunta:
- Où sont les pinóte? (onde estão os pinóte?)
Eu respondo:
- Je m'excuse, monsieur... (me desculpe, senhor...)
- Les pinóte... (os pinóte...)
(Neste instante, pensei "será que ele quer dizer peanuts?" - lá no restaurante tem uns barris de madeira cheios de amendoin onde os clientes podem se servir de graça).
- Ah, les pinóte! Ils sont en arrière, monsieur! (Ah, os amendoins! Eles estão ali no fundo, senhor!)
(Nessa hora reproduzi a palavra que o senhor tinha usado comigo porque achei que seria deselegante com ele usar arrachides ou cacahouettes - palavras que os franceses usam para amendoin. Talvez ele pudesse pensar que eu estivesse corrigindo-o ou sei lá.)


A partir de quarta-feira, durante o dia, nós somos duas hostesses na entrada do restaurante, já que o movimento aumenta consideravelmente a partir deste dia e o restaurante é gigante e tem dois andares (cada hostess fica num andar). Voltando pra porta depois de ter conduzido alguns clientes até uma mesa, perguntei ao casal que esperava na fila na entrada do restaurante se eles queriam uma mesa e pra quantas pessoas. Ele me responde:
- Merci, l'autre hôtesse est en train de cleaner une table pour nous!
(Obrigada, a outra hostess está limpando uma mesa pra nós!)
Cleaner, ao invés de nettoyer...


Outro dia uma das hostesses que trabalham comigo chegou de manhã e me disse:
- Tu vois-tu? J'ai ironé ma chemise, parce que John m'a dit qu'elle n'était pas bien ironée...
(Você viu? Eu passei minha camisa, porque o John me disse que ela não estava bem passada...).
Ironé(e), ao invés de repassé(e).
Aqui faço uma observação. Os québécois não têm, tanto como nós, o hábito de passar suas roupas, porque elas já saem com aparência de passadas da secadora (hábito que a gente acaba incorporando pra grande parte das roupas que realmente saem bem esticadinhas da secadora. Mas camisa não dá, né, gente... tem que passar! rs).


Nós temos um livro grande onde agendamos todas as reservas do restaurante. Do lado esquerdo, agendamos as reservas para o almoço e do lado direito, as da noite. Tem dia em que recebemos tantas reservas que não sobra espaço no livro pra gente escrever. Num dia desses, anotei uma reserva do almoço do lado direito (num espacinho que encontrei lá no meio), o que nos causou um pequeno problema, porque a reserva acabou não indo pro mapa do restaurante, o cliente chegou e não existia mesa no nome dele. Eu disse à Sabrina que o erro tinha sido meu e então ela disse:
- Pas de problème, Barbara. La prochaine fois, on va highlighter ces réservations-là.
(Não tem problema, Bárbara. Da próxima vez, a gente vai destacar/grifar essas reservas).
Highlighter, ao invés de mettre en évidence ou souligner ou whatever...


Conversando com outra hostess que trabalha comigo, ela me perguntou:
- Quel est le nom de la couleur de ton lipstille?
(Qual é o nome da cor do seu lipstille?)
- Lipstille? Tu veux dire lipstick, c'est ça?
(Lipstille? Você quer dizer lipstick - batom, em inglês -, é isso?)
- Ouais... lipstille, lipstick, whatever...
Lipstille, uma mutação de lipstick, ao invés de rouge à lèvres.
Ouais, ao invés de oui.


A quase melhor de todas... Um dos gerentes do restaurante chega a mim e pergunta:
- Barbara, où est le push-push?
(Barbara, onde tá o push-push?)
- Où est le... quoi?
(Onde tá... o quê?)
- Le push-push, pour essuyer la porte...
(O push-push, pra limpar a porta...)
- Ah, le Windex...
Push-push, ao invés de windex ou nettoyant à vitres.
(Depois comecei a usar a palavra push-push no restaurante a título de experimento, pra ver quantas pessoas usavam ou conheciam a palavra. Alguns não sabiam do que eu estava falando).


A próxima, a melhor de todas, é derivada do push-push. Eu e outra hostess estávamos lá na entrada do restaurante quando ela diz pra mim:
- Barbara, je vais push-pushpoter la porte.
(Bárbara, eu vou push-pushpoter a porta).
- Tu vas faire quoi, push-pushpoter la porte? (caí na risada) On dit déjà push-push, maintenant t'as inventé le verbe? (e continuei a rir).
(Você vai fazer o quê, push-pushpoter la porte? Já se diz push-push, agora você inventou o verbo?)
- Ouais, je l'ai inventé... push-pushpoter la porte!
(Sim, o inventei... push-pushpoter la porte!)
Push-pushpoter, o filho do push-push, ao invés de nettoyer.


É muuuito comum eu escutar:
- Ton manager, il est là?
(Seu gerente tá aí?)
E a pronúncia não é a do inglês... eles colocam a tônica na última sílaba, pronuciando todos os "a" abertos...
Manager, ao invés de gérant.


O caso do par exemple é uma piada... Par exemple, teoricamente, é usado pra exemplificar, como já nos parece óbvio. Aqui não. Eles empregam o par exemple em frases que nada têm a ver com exemplificação. Eu pergunto ao cliente:
- Vous allez être combien?
(Quantos vocês serão?)
- On va être trois, par exemple.
(Nós seremos três, par exemple).
ou
- Je ne suis pas très contente, par exemple.
(Eu não tô muito contente, par exemple).
Eu percebi que o par exemple se comporta como um vício de linguagem. Talvez possamos compará-lo ao nosso uai em Minas.


O tal do tu. Tu é sujeito em francês e o francês é uma língua caracteristicamente enfática em muitas situações. Por isso, é comum repetirmos o sujeito numa frase. Enquanto um francês repete duas vezes o sujeito numa frase (nem sempre, claro), um québécois chega a repeti-lo três vezes (ou mais). E às vezes o tu aparece onde nem sujeito ele é. Muitas vezes, ele entra no lugar do est-ce que do francês e acaba sendo mais um vício de linguagem ou uma "interjeição wannabe"... rs. Seguem alguns exemplos dos shows de tu por aqui:
- On peut-tu s'asseoir ici?
(A gente pode se sentar aqui?)
- Tu travailles-tu demain, toi? (três referências ao sujeito nesta frase...)
(Você trabalha amanhã?)
- Ça se peut-tu?
(Pode ser?)
- Je peux-tu déjà m'en aller?
(Eu posso já ir embora?)
- Nous pouvons-tu prendre cette table-ci?
(Nós podemos pegar - no sentido de escolher - essa mesa aqui?)

Bom, por hoje tá bom, né. Obrigada aos que leram o post todo!

Ps.: Caso alguém se interesse, tenho alguns materiais sobre o francês québécois (léxico, fonética/prosódia, palavrões) e um powerpoint que preparei para o minicurso com um pouco da história do Québec e de como a questão sociolinguística do francês québécois se desenvolveu aqui.

À la prochaine!

B.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A primeira tempestade de neve!

Olá, pessoal!

Hoje tivemos a primeira tempestade de neve deste quase inverno! 20 cm, pra começar...

Foto tirada (de dentro de casa) da nossa sacada quando acordamos hoje...

Saindo do trabalho, foto na Rue Sainte-Catherine.

Chegando em casa, o parque em frente ao nosso prédio, completamente branco.

A ruela atrás do nosso prédio.

Meu pé, atolado.

Nossa rua.

Becs à tous!

B.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Tudo novo de novo

Sei que faz muito tempo que não escrevo aqui (acho que este foi o maior tempo que fiquei sem postar...), mas tanta coisa aconteceu nos últimos tempos que o tempo mudou de cara e foi comendo a gente pelas beiradas. É engraçado isso... A vida em Montréal tem um ritmo próprio, pelo menos pra nós. Tudo aqui parece mais intenso e o tempo passa mais rápido. Quando você vê, a semana já acabou e o fim de semana tem um jeitão de trailer, apesar da imensa quantidade de novas experiências que vivemos aqui diariamente.

Vamos completar 5 meses aqui e bastante coisa mudou desde então. Vamos por partes:

Estudo
Ser professora me fez muito feliz durante quase sete anos, mas já no Brasil eu não estava mais me sentindo realizada na profissão. Sabe quando você começa a ir pro trabalho tendo que fazer um esforço pra gostar daquilo? É verdade que quando eu entrava em sala de aula esse "sofrimento" muitas vezes desaparecia, principalmente nas turmas com que eu mais me identificava, porque ser professor é uma experiência realmente fantástica, mas em certo ponto da história eu percebi que precisava de uma mudança na minha vida profissional. Foi quando, há pouco mais de dois anos, me encantei pela Tradução e, graças a uma ex-professora da faculdade que mais tarde se tornou uma grande amiga, a Paula, pude começar a trabalhar como tradutora no Brasil. "Pronto", pensei, "encontrei a mudança que eu estava procurando". Assim sendo, decidi que, quando chegasse aqui, continuaria trabalhando como professora até concluir a faculdade de Tradução (que eu já havia começado a procurar ainda do Brasil), entrar pra Ordre des Traducteurs, Terminologues et Interprètes Agréés du Québec e poder trabalhar como tradutora juramentada em Montréal.

Mas pouco tempo antes de vir pra cá eu me senti ainda em dúvida sobre o que queria fazer. O lance é que sempre gostei de Design, Artes e cheguei a trabalhar com isso durante algum tempo no Brasil, logo que voltamos daqui de Montréal em 2006. O primeiro vestibular que pensei em prestar na minha vida foi pra Artes Plásticas, mas por achar que eu não passaria na prova de habilidade específica (porque até então eu não sabia nem pegar num lápis pra desenhar, só gostava mesmo da coisa) e por na época não ter tido grana pra pagar um curso de desenho, essa ideia acabou adormecendo pra dar lugar à minha aptidão pras Letras, coisa que tá no sangue da minha família. Só que o gosto por Artes sempre ficou ali, num canto, aparecendo de vez em quando junto com algumas habilidades artísticas... Logo antes de virmos pra cá, pensei em reconsiderar a decisão pela Tradução e, quem sabe, fazer um curso de Design. Pensei nisso durante pouco mais de um mês e acabei voltando pra Tradução.

Encontrei o curso de Tradução que eu queria na UdeM e lá fui fazer meu pedido de admissão. Pra ser admitida no curso de Tradução da UdeM, além da análise do dossiê acadêmico, tive que fazer um teste de admissão, uma prova de 18 páginas, metade em francês, metade em inglês. Um mês depois, recebi a notícia de que havia passado no exame e de que eu havia sido admitida. As aulas começaram na semana seguinte e lá fui eu, meio chocha, assistir à primeira aula. Muito legal, gostei muito da aula, do professor etc, mas eu tava me sentindo estranha... "será que eu quero ficar estudando gramática - porque a aula era de gramática do francês - durante mais cinco anos pra depois ficar traduzindo documento?". Entrei em crise pra valer... o pior é que tem hora em que a gente vive umas crises e não consegue enxergar do que aquilo se trata, né? Minha primeira aula foi numa terça-feira, o auge da crise se deu na quarta e na quinta já não voltei pra outra aula que eu tinha neste dia. Foi assim. Depois de chorar rios de angústia por não entender o que tava acontecendo comigo e de muita conversa com o Wal, percebi que eu já sabia o que eu queria fazer e não tava tendo, talvez, coragem pra fazer: mudar de área, recomeçar tudo do "zero" numa nova profissão. Na semana seguinte, pedi a anulação do curso de Tradução (existe um prazo pra você fazer isso antes de ter que pagar a primeira tuition, e o meu prazo ainda tava rolando), o que não foi fácil mas causou em mim uma alegria instantânea, ao mesmo tempo. Naquele momento me senti libertada e, com o passar dos dias, toda aquela angústia foi sendo substituída por um gás novo e um ânimo pelo que de desconhecido viria pela frente.

Pesquisas feitas, percebi que os cursos de Design aqui eram muito específicos, longe do que eu tava procurando. Foi então que encontrei um curso de Artes Plásticas na UQÀM e amei a grade de disciplinas. Na sexta-feira passada recebi a resposta do pedido de admissão que eu havia feito uma semana antes e, tcharã!, fui admitida! As aulas começam em janeiro e eu não vejo a hora de começar tudo de novo!

O Wal tá feliz da vida fazendo Film Production na Concordia, como aluno independente (uma espécie de ouvinte), já que o período de inscrições pra sessão de outono deste ano já havia sido encerrado quando chegamos aqui. Como aluno independente, ele só pode estudar a temps partiel (6 créditos por sessão, o que equivale a duas disciplinas por sessão) até que ele seja admitido como aluno regular em setembro do ano que vem, mas todos os créditos que ele cumprir até lá serão considerados. Então, ao invés de ele esperar até setembro do ano que vem pra poder começar o curso como aluno regular, ele já está adiantando algumas disciplinas. Fica a dica pra quem perder o prazo do pedido de admissão: veja na universidade em que quer estudar se é possível entrar como aluno independente depois do período de admissão ter sido encerrado.

Além disso, o Wal começou ontem a Francisação. Se não me engano, ele entrou com o pedido de admissão na Francisação em julho e, até a semana passada, ainda não tínhamos recebido resposta (já estávamos achando que ele não seria chamado pra sessão de novembro). A turma é pequena, 16 alunos, e ele gostou muito da primeira aula.

Trabalho

Depois de ter trabalhado na escola de línguas como professora de francês, preparei algumas cartas de apresentação pra tentar uma vaga em outras escolas, mas foi justo neste período que eu decidi chutar o balde e o pau da barraca e mudar de profissão. Por isso, nem cheguei a imprimi-las. Tendo isso em vista, me concentrei em alguns empregos "genéricos" - secretária, recepcionista e hostess - e consegui uma vaga como hostess num restaurante. Já faz dois meses que tô trabalhando lá e, apesar de saber que não quero fazer isso por muito tempo, sei também que isso faz parte dos recomeços. Além disso, trabalhar lá tem sido uma experiência muito boa, a oportunidade de praticar o francês e o inglês o dia todo, desenferrujar o espanhol e fazer bons amigos (além de que eu sempre tive uma curiosidade por trabalhar como hostess, por sempre ter achado chique no úúúrtimo alguém que te recebe na entrada do restaurante... rs rs rs).

O Wal estava trabalhando como video-game tester (o emprego dos sonhos dele, até ele descobrir que o negócio não é tão divertido como ele pensava... rs) na Babel, uma empresa que testa jogos de vídeo-game pra outras empresas como a Ubisoft, por exemplo. Ele foi contratado como freelancer e lá ele ficou por quase um mês, até que agora achamos melhor ele se concentrar na francisação.

Fora isso, o frio por aqui tá chegando de mansinho. Tivemos duas semanas bem mais frias que o normal pra esta época e até tivemos flurry em dois dias. A paisagem muda a cada semana e muitas árvores já estão peladas.

Sobre a nossa vizinha silenciosa, digamos que o barulho diminuiu em torno de 70%, o que é muito bom, considerando que a gente pensava que a dor de cabeça fosse ser bem maior. O problema agora é com a vizinha do lado. Sim, quando você pensa que a coisa já tá ruim, ela ainda pode piorar... rs. Quase todos os dias, acordo pelo menos meia hora antes do alarme despertar com o choro de uma das filhas da vizinha do lado (e a criança chora por mais ou menos uns 15 minutos). Nessas horas, eu tenho que fazer um trabalho mental pra controlar o nervosismo (pensa numa pessoa que fica nervosa quando é acordada...) que me faz querer catar qualquer coisa e bater na parede até a criança parar de chorar. Definitivamente, gostamos muito do nosso apartamento, mas vamos nos mudar assim que for possível.


Gros becs,

B.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A expressão do sentimento separatista

Esta antiga caixa de correio fica na esquina do nosso prédio e ilustra muito bem o radicalismo característico da expressão do chauvinismo de alguns québécois. Além de terem sugerido a mudança do nome Postes Canada para Postes Québec, ainda pixaram na lateral da caixa os famosos dizeres Québec Libre, "símbolo" do movimento separatista québécois.

Para refletir...

B.

Ps.: o blog tá meio abandonado porque a correria tá grande, mas logo venho aqui dar notícias!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

L'Oratoire Saint-Joseph

(Post dedicado à tia Leila, minha tia fotógrafa que pediu mais fotos no blog! :)

Já faz algum tempo que a Zeina, minha primeira professora de francês e hoje uma querida amiga, esteve aqui em Montréal de passagem. Ela me ligou dizendo que queria conhecer tudo que fosse possível em um dia, um domingo. Acordei cedo pra encontrá-la e, dentre os passeios que fizemos, fomos ao Oratoire Saint-Joseph. O lugar é maravilhoso e fica num ponto alto de Montréal, então é possível avistar sua cúpula de vários pontos da cidade. Mesmo vendo-o por meio de fotos, a gente só se dá conta da sua majestade estando lá. No fim de semana seguinte, eu e o Wal fomos ao oratório pra que ele também o conhecesse.



Saint-Joseph

Mas prepare-se, pois é muuita escada pra subir (ao ponto de, ao fim da visita, depois de descê-las, você ganhar como brinde um já muito relatado tremelico nas pernas). Lá tem um elevador, mas não vale!


Vista de cima do oratório (olhem o tamanhozinho das pessoas lá em baixo...)

A foto não ficou nada legal, mas dá pra ver o tamanho e a beleza do órgão do oratório.

O impecável e bilíngue jardim na entrada do oratório.
A caminho do Oratoire Saint-Joseph, um achado (logo de frente pra saída do metrô Côte-des-Neiges): o Marché Côte-des-Neiges, um mercado que fica aberto 24 horas durante os 7 dias da semana no verão. Lá encontramos frutas, legumes, verduras, flores, tudo fresquinho, além de mudas de plantas, sirop d'érable, geleias de todo sabor, mel puro, todo tipo de berries entre outros. E o preço é muito bom!


B.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Histórias pra contar: o Bicho Não-Identificado

Anteontem à noite fomos à casa do João e da Cláudia pra nos despedirmos do nosso querido amigo Bruno, sobrinho da Cláudia, que voltou pro Brasil ontem. Depois de tomarmos uma cervejinha gelada e comermos o sempre delicioso cachorro-quente da Cláudia, fomos dar um passeio com o Buddy no rio aqui perto a caminho da nossa casa.

Já era pouco mais de meia-noite quando eu, o Wal e o Bruno saímos andando pro rio e lá nos sentamos pra bater um papo e ver o Buddy enrolando a guia em volta da mesa (sair à meia-noite pra ouvir os barulhos do rio, respirar um ar puro e ver patinhos selvagens, isso é uma das coisas que aqui em Montréal podemos fazer sem medo ou preocupação alguma). Foi quando de repente o Wal avistou um bicho, de longe. Como estava escuro, ficamos tentando adivinhar que bicho era aquele que estava destemidamente vindo em nossa direção. A princípio achamos que fosse um gato gordo (aqui se veem muitos gatos gordos), depois pensamos que pudesse ser um esquilo gigante, quando o bicho ameaçou subir no tronco de uma árvore mais próxima de nós. Mas então percebemos que ele somente estava pagando de esquilo e que ele não era capaz de subir em árvore coisa alguma, talvez por causa de sua rechonchudez. Seria uma marmota? Também não. Um raccoon? Talvez. Eu, completamente fascinada com aquela natureza selvagem logo ali, a poucos quarteirões de casa, queria porque queria chegar perto do bicho e, quem sabe, num golpe de sorte, conseguir fazer-lhe um cafuné. O Wal e o Bruno, que levaram consigo sua sensatez para o passeio, não me deixaram correr o risco de ser atacada pelo bicho, claro. Isso porque, além dos motivos normais para não nos aproximarmos do BNI, recentemente já havíamos tido uma experiência não muito agradável com um gambá.

Pausa para essa história. Foi numa noite no quintal no prédio do João. Nós estávamos lá, fazendo um churrasquinho, quando alguém avista um gambá. Quando nos demos conta, o Buddy, que estava livre, leve e solto, já estava correndo atrás do bicho. A sorte foi que o Victor chegou em tempo de separar os dois, se não o estrago teria sido maior. O gambá (que é um bicho lindo, by the way) soltou um jato daquela coisa fedida que eu só tinha visto em desenho animado até hoje e deixou o Buddy fedendo até a semana passada, mesmo depois de tomar uns 500 banhos.

Depois disso, ficamos espertos toda vez que saímos a pé de casa à noite. Mesmo assim, eu queria me aproximar do bicho não-identificado, que parecia ser a coisa mais fofa. A esta altura, o Buddy, completamente enlouquecido pelo animal que se aproximava cada vez mais e nos encarava na maior cara-de-pau, já estava sendo segurado pelo Wal e pelo Bruno. O curioso é que o BNI ficava igual gente, nos olhando por detrás do tronco da árvore, só com a cabecinha aparecendo. Antes de corrermos o risco de repetir a história do Buddy com o gambá, resolvemos sair dali e ir pra casa. Depois de nos despedirmos, a primeira coisa que fiz foi acessar a internet pra descobrir que bicho era aquele. Era mesmo um raccoon (guaxinim ou mapache, em português). Olha ele aí:


Dá vontade de levar pra casa...

B.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Êtes-vous un chercheur d'emploi efficace?

Ontem descobri um ótimo site, o da Association des centres de recherche d'emploi du Québec (ACREQ). Foi lá que encontrei um teste que te permite saber se você está sendo eficaz na sua busca por emprego no mercado de trabalho québécois. Achei-o extremamente interessante e útil (por meio dele descobri que posso mudar e melhorar algumas das minhas estratégias na busca por emprego) e, por isso, deixo aqui o link para quem quiser fazer o teste. Ao todo são 13 questões, bem rapidinhas de responder. Ao final do teste, o site disponibiliza um pdf com o gabarito, ou seja, as respostas que te qualificariam como um buscador de empregos eficaz, que acabam servindo como um guia pra quem está nesta "profissão".

Bom teste!

B.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Adam

Na quarta-feira passada, fomos ao cinema, finalmente e de graça! O Wal se inscreveu em um dos concursos do Hour e ganhou um par de ingressos pra vermos a estreia de Adam no AMC Forum 22 aqui em Montréal. Fomos ver a comédia romântica sem esperar muito dela, mas nos surpreendemos principalmente com a direção, o roteiro e a atuação de Hugh Dancy, como Adam. Recomendamos.


A ida ao cinema em si já era especial porque, como dois cinéfilos que somos, ir ao cinema é um dos nossos programas preferidos e há muito tempo esperávamos uma oportunidade de fazê-lo aqui em Montréal, coisa que, inacreditavelmente, ainda não havia acontecido, mesmo nos idos de 2005, quando moramos aqui. Acho que nosso costume de ver filmes comprados em promoção ou baixados da internet em casa nos afastou das não muito baratas salas de cinema... por pouco tempo, porque agora o Wal vai se tornar um ganhador de ingressos profissional, se a sorte continuar batendo na porta dele (nesse fim de semana ele jogou na loteira aqui e não acertou sequer um número, mas tudo bem) rs.

Voltando ao caráter especial da nossa ida ao cinema na última quarta-feira, estamos lá sentados, aguardando o início do filme, quando o Wal de repente avista o Michel Coulombe, de quem já falei num post de setembro do ano passado, a propósito de um colóquio realizado por dois canadenses, um deles o Michel, sobre a inserção dos povos indígenas e imigrantes no Brasil e no Canadá. Na mesma hora, fomos falar com ele, nos apresentando como "o casal que você conheceu em Uberlândia, no Brasil, no ano passado". Ele ficou tão satisfeito de nos rever e de ter concluído que, se estávamos ali, é porque havíamos conseguido o visto de residência permanente, que foi logo nos dando um abraço à la brésilienne e dizendo "Bienvenus au Québec!", não sem antes comentar o quão bizarro era aquele nosso reencontro, considerando-se a possibilidade de nos encontrar ali, um casal vindo de uma cidade de que ele nunca havia ouvido falar até o ano passado.

Como a entrada na sala de cinema foi liberada meia hora antes do filme começar, nossa conversa com ele rendeu um bocado. Ele nos contou sobre como sua ida a Salvador foi maravilhosa e o surpreendeu, já que, estando lá no dia da nossa Fête Nationale, nosso querido 7 de setembro, ele esperava ver muitas plumas e mulheres bonitas desfilando, o que, nós sabemos, não aconteceu. Ao invés de mulheres bonitas e plumas, ele assistiu a um genuíno desfile militar, coisa que ele contava aos risos. Ele ainda disse "vocês não conseguiram ouvir a emissão da Radio Canada naquele sábado, né? Eu não sei o que houve, mas a emissão, que era ao vivo, não pôde ser acessada pela internet, mas eu falei de vocês, do blog de vocês e toquei a música do Robert Charlebois, viu?".

O Michel Coulombe é daquelas pessoas especialíssimas, que com uma pitada do seu tempo conseguem transformar um pouco sua vida. Ficamos muito felizes por havê-lo reencontrado e por ele ter se lembrado da gente com tanto carinho. Esperamos poder cultivar mais essa amizade.

Foto no saguão do AMC Forum 22, onde tem uma mini arquibancada com este torcedor enlouquecido do Canadians. O Wal se recusou a pagar esse mico.

Ps. Aproveito pra dar a dica de um cinema bem baratinho aqui em Montréal, o Dollar Cinema, em que o ingresso custa 2 dólares e bebidas, pipoca, chocolates custam 1 dólar. A diferença é que o Dollar Cinema exibe filmes que não são lançamentos ou já saíram de cartaz e filmes mais antigos, incluindo clássicos.

B.


segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Notícias do trabalho

Na sexta-feira passada, completei duas semanas de trabalho na escola de línguas, período em que a professora de francês que substituí esteve de férias. Durante a primeira semana, assumi uma turma pela manhã, composta de duas alunas que estavam finalizando o nível intermediário. Antes que a semana terminasse, a escola me ligou dizendo que, para a semana seguinte, havia mais duas turmas iniciantes à noite pra mim, o que achei muito bom, pensando na possibilidade de poder continuar trabalhando lá. A semana passada começou e eu continuei com a turma da manhã (com uma aluna somente, iniciando o nível avançado, já que a outra havia retornado ao México após a conclusão do intermediário) e uma turma à noite, de três alunos, já que a outra acabou sendo cancelada por falta de inscrições (somente um aluno havia se inscrito).

A esta altura, eu já estava a par da situação da escola. Trata-se de uma escola de línguas que existe há menos de dois anos e que tem poucos alunos. Daí percebi que, sozinha, uma só professora de francês daria conta do recado. Foi então que, na sexta-feira passada, depois de ter concluído minha aula pra aluna da turma da manhã, fui conversar com o dono da escola a respeito da minha situação (já supondo que não haveria turmas pra mim) e ele me disse que para o mês de agosto não precisaria de mim, pois a outra professora retornava hoje das férias, mas que as inscrições para o mês seguinte já haviam começado e que provavelmente ele me chamaria para setembro, esperando conseguir abrir mais turmas.

Apesar de ter lamentado não poder continuar na escola neste mês, antes da semana passada terminar eu já havia chegado à conclusão de que não daria pra continuar trabalhando lá nesses termos, sem um contrato e à mercê da possibilidade de novas turmas serem abertas. Por isso, antes mesmo de conversar com o dono da escola, eu já estava planejando retomar minha função de enviadora de currículos à procura de um novo trabalho, desta vez muito mais auto-confiante e consciente da minha capacidade de trabalhar aqui como professora de francês. Digo isso porque uma coisa é você dar aulas de língua estrangeira no seu país, outra coisa é você fazê-lo num país em que seus alunos não falam sua língua.

Nesse sentido, a experiência que tive nessa escola foi muito enriquecedora. Mesmo no Brasil, eu sempre dei aulas de francês pautadas no mínimo de tradução possível. Era engraçado porque eu já paguei vários micos gigantes na frente dos alunos, fazendo mímicas ou desenhos ridículos na tentativa de fazê-los compreender o que uma expressão, palavra ou situação em francês significava. Só quando todas as possibilidades eram esgotadas é que eu recorria à tradução, principalmente no caso dos alunos com maior dificuldade de apreensão da língua.

Aqui em Montréal, tive, por exemplo, uma aluna coreana, uma senhora nos seus 50 anos de idade (a aluna da turma da manhã). No primeiro dia de aula pra ela (eu já havia sido informada sobre ela pela escola, devido à sua saúde frágil), a caminho da escola, eu fiquei imaginando como seria essa questão toda, de ensinar uma língua estrangeira pra uma pessoa mais velha que não tem a mínima ideia a respeito da minha língua materna pela primeira vez. Estive com ela durante as duas últimas semanas e, finalmente, vi algum retorno daqueles micos que paguei no passado (eu sabia que, um dia, eles me serviriam de algum modo e teriam valido a pena... rs).

Por isso tudo, eu não posso reclamar. Essa já foi uma oportunidade muito boa, que me deu auto-confiança pra alçar outros voos e me abriu portas. Dos alunos que tive na escola, duas alunas (uma delas, a coreana) pediram meu telefone interessadas em ter aulas particulares comigo, o que, de tudo, foi o que me deixou mais feliz, já que, pra todo professor, penso, não há nada mais valioso que o reconhecimento de seus alunos.

Sendo assim, hoje reiniciei minha procura por emprego. Elaborei nove(!!!) cartas de apresentação endereçadas a nove escolas de línguas diferentes. Amanhã pretendo entregar sete delas (todas escolas que ficam no centro de Montréal) e, em outro dia, as outras duas, lááá em Côte Vertu.


Para quem também é professor de língua estrangeira (ou simplesmente professor), deixo a dica de três sites em que temos acesso a uma boa lista de escolas de línguas e cégeps (que oferecem cursos ou disciplinas como inglês e/ou francês) em Montréal:
  • Study in Montreal (site excelente também pra quem está à procura de escolas pra estudar línguas. Contém informações sobre moradia, viagens e trabalhos para estudantes);

Ps.
By the way, faz uma semana que a vizinha do andar de cima não faz barulhos após as onze e meia. Esperamos que ela continue assim!

B.