terça-feira, 28 de julho de 2009

J'ai un job!

Faz pouco mais de duas semanas que eu e o Wal começamos efetivamente a procurar emprego. Além de que só ver o dinheiro indo embora não é nada legal, a gente também já estava sentindo falta de uma rotina, sabe, de ver alguma coisa concreta acontecendo. Então, começamos a procurar ofertas de emprego em alguns sites (Craig's list, Jobboom, Monster etc) e enviar nossos currículos para as vagas que nos interessavam. Mais tarde, cadastramos nossos CVs no Jobboom e no Monster.

Procurar emprego aqui no Canadá é bem diferente de procurar emprego no Brasil. Primeiro, o formato do currículo não tem muito a ver com o nosso brasileiro. Segundo, existe a famosa lettre de présentation. Basicamente, você deve redigir uma para cada vaga ou possível empregador. Dependendo do tipo de vaga que você procura, a lettre de présentation nem é solicitada ou não é tão importante enviá-la, mas para as vagas que exigem certa qualificação ela é bem importante.

No meu caso, que tenho formação em Letras (português/francês) e experiência como professora, revisora e tradutora, a procura por emprego aqui se mostrou mais trabalhosa do que eu pensava, porque, dependendo da vaga para a qual eu postulava, eu tinha que fazer alterações no meu objetivo profissional. Então eu cheguei a formular três modelos de currículo que, acredito, atendiam a essa necessidade. A diferença básica entre cada um deles se deu no objetivo profissional mesmo. No primeiro modelo, enfatizei minha busca por vagas relacionadas ao ensino da língua francesa e/ou portuguesa; no segundo, destaquei minha busca por vagas relacionadas à tradução e à revisão de textos; e no terceiro, eliminei o subtítulo "Objectifs professionnels", o que, segundo alguns guias de elaboração de CV e cartas de apresentação a que tive acesso*, deve ser feito quando você não tem um objetivo específico ou sua experiência de trabalho não te conduz a um tipo determinado de vaga. Esse último currículo, eu enviava para vagas de recepcionista bilíngue, secretária e derivados.

Quanto à carta de apresentação, eu elaborava uma nova para cada vaga ou empregador. Digo vaga ou empregador porque, muitas vezes, não temos acesso às informações do empregador, então a carta fica meio desfalcada. Mas todas as vezes eu procurava o máximo de dados possíveis sobre o empregador, mesmo que fosse só o nome da empresa e o endereço. Isso é muito importante na minha opinião, porque demonstra seu interesse específico naquela empresa. O melhor mesmo é dar um jeito de descobrir o nome da pessoa que vai receber seu CV e sua carta de apresentação e que será responsável por te selecionar ou não e endereçar a carta de apresentação a ela. A elaboração das cartas de apresentação é a parte que dá mais trabalho na busca por emprego aqui, mas, depois de redigir umas tantas, você pega o ritmo da coisa e consegue aproveitar o texto utilizado para uma vaga em outras do mesmo tipo, sendo necessário somente fazer algumas pequenas alterações.

Outra coisa que pode fazer uma grande diferença é a carta de recomendação, que não temos no Brasil, usualmente. Trata-se de uma carta redigida pelo seu último empregador (ou antigos empregadores) dizendo coisas legais a seu respeito, resumindo, que você é uma pessoa que vale a pena contratar. Já ouvi dizer que há empresas aqui que podem pedir até quatro cartas de recomendação (é lógico que isso está relacionado à experiência de trabalho de cada um), mas até agora não vi ninguém pedir nenhuma carta. Na verdade, assim como a carta de apresentação, a de recomendação não precisa ser solicitada para que você decida enviá-la. Eu, antes de sair do Brasil, fiquei enrolando um tempão pra pedir pra minha ex-coordenadora redigir uma carta de recomendação pra mim, coisa que ela já tinha se oferecido pra fazer. Mas era tanta coisa pra resolver antes de virmos que eu acabei decidindo que, se alguém aqui me pedisse uma carta de recomendação, eu mandaria um e-mail pra ela e a gente resolveria isso em dois tempos. Até agora, não precisei.

Foi então que, depois de uma amiga brasileira que já trabalhou numa escola de línguas aqui em Montréal ter me sugerido que eu levasse um currículo meu a esta escola, lá fui eu entregá-lo, o primeiro que eu encaminhava pessoalmente. O Wal foi comigo e ficou me esperando do lado de fora. Peguei o elevador e a porta já se abriu na recepção da escola. Então, me apresentei à recepcionista, muito simpática, e disse que uma amiga que já tinha trabalhado ali havia me recomendado a escola e que, por isso, eu estava deixando meu CV e uma carta de apresentação (a carta, endereçada ao dono da escola, junto com o CV dentro de um envelope pardo). Ela agradeceu toda sorridente e eu fui chamar o elevador pra descer. Minha sorte foi que esse elevador da escola é muuito lento, então, enquanto eu esperava o bendito chegar, eis que avisto um senhor a caminho da recepção. Na mesma hora a recepcionista me disse que aquele era o dono da escola e me perguntou se eu não gostaria de ser apresentada a ele. Eu não poderia perder essa oportunidade. O senhor já veio também sorridente na minha direção (adoro pessoas descompromissada e verdadeiramente sorridentes) enquanto a recepcionista me entregava de volta o envelope que dei a ela. Já fui tirando meu CV e a carta de apresentação de dentro do envelope e me apresentando ao dono da escola. Disse novamente que a escola me havia sido recomendada pela Débora e que seria um prazer trabalhar ali. Ele me perguntou rapidamente que tipo de aulas eu dava e eu respondi que dava aulas de francês (meu foco naquele momento, já que achar uma escola de línguas aqui que tenha turma de português aberta não é muito comum). Aproveitei e disse que eu também tinha experiência como tradutora enquanto ele folheava meu CV. No final, ele disse que a escola sempre está à procura de novos professores e que, caso uma oportunidade surgisse, ele entraria em contato comigo. Saí de lá satisfeita com o modo como fui recebida, mas disse pro Wal que eu achava que, se ele me chamasse, seria a médio ou longo prazo. Beleza.

No dia seguinte, cá estou fazendo nosso almoço enquanto o Wal olhava meu e-mail pra mim em busca de alguma novidade. Daí ele diz "e aí, tá a fim de começar a trampar?". O dono da escola tinha me enviado um e-mail dizendo que, já para a semana seguinte, ele tinha uma turma pra mim (para substituir uma professora que entrava de férias) e que, se eu tivesse disponibilidade e interesse na vaga, que eu entrasse em contato o mais rápido possível. Almoçamos e liguei pra ele, que me pediu que eu estivesse lá no dia seguinte às 9h da manhã para conversarmos e para que eu conhecesse a professora de francês que estava saindo de férias. Isso foi na quinta-feira passada, dia 23.

Na sexta-feira, depois de me deixar tomando um chá de cadeira de uns 20 minutos, eu, nervosa, como sempre, nessas situações de antecipação, fui me acalmando e, quando ele entrou na sala, eu já estava tranquila. Eu sou sempre assim, tenho esse nervosismo de véspera que some na hora do "vamo vê". Com meu CV em mãos, ele me perguntou algumas coisas sobre a minha formação, se meu diploma era universitário, sobre as línguas que eu falava, onde e como eu tinha aprendido. Ele não tinha me perguntado nada sobre minha experiência de trabalho até o momento, mas resolvi, como boa faladora, aproveitar o gancho da explicação do meu francês pra falar da minha experiência de trabalho como professora de francês. Terminadas as perguntas, eu disse que, se ele quisesse ver, eu tinha comigo as comprovações de tudo que eu havia colocado no meu CV. Ele disse que queria ver, sim, então eu comecei mostrando meu diploma. A sorte é que, na mesma semana, mandamos fazer as traduções de alguns documentos nossos pra dar entrada na universidade aqui, então mostrei a tradução do meu diploma e do meu histórico escolar (que ele pediu pra copiar). Depois ele não quis ver mais nada (eu tinha levado a pasta em que eu organizei todos os documentos relativos à minha formação, experiência de trabalho, certificados etc) e pediu pra eu preencher uma folha com os dados para a contratação, informando que não se tratava de um contrato anual, mas que eu seria chamada à medida que houvesse turmas pra mim, e que a hora/aula que me propunha era um valor inicial, que seria revisto mais pra frente. Achei bom mesmo assim, porque já era a primeira oportunidade de trabalhar na minha área e mostrar meu trabalho. Em seguida (tá acabando, gente), fui apresentada à professora de francês que estava saindo de férias e me explicou tudo sobre a turma que eu iria pegar, os livros utilizados etc. Saí de lá contente da vida, não só pelo emprego novo, livros em mãos, mas por ter sido tão bem recebida (é bom quando isso acontece, né?).

Ontem foi meu primeiro dia de trabalho. Muito legal! A escola tem sempre turmas pequenas, de no máximo 5 alunos, e fica no Vieux-Port de Montréal, então todos os dias vou passar em frente à Basilique Notre-Dame pra ir pro trabalho, o que ontem provocou em mim uma sensação engraçada. É que, saindo da escola, eu avistei várias pessoas com máquinas fotográficas em punho (essa é, talvez, a área mais turística de Montréal), e isso me fez refletir sobre a minha nova condição aqui, de residente, e fiquei feliz com o rumo que as coisas têm tomado.

* Quem estiver interessado nos guias de elaboração de CV e carta de apresentação (um deles é da UQÀM), é só me deixar o e-mail que eu mando!

Becs, B.

terça-feira, 21 de julho de 2009

A boa vida da Sara

Muita gente tem me perguntado como está a Sara aqui, se ela já se adaptou à nova casa... olhem só a boa vida que ela tá levando aqui e vejam se ela não tá adaptada...

Sempre que estamos em casa, abrimos a porta da sacada pra ela fazer uma das coisas de que mais gosta: tomar sol. Quando ela não tá muito interessada, eu digo a ela que é melhor aproveitar o sol agora, porque depois, quando chegar o frio e o inverno, essa boa vida vai acabar... rs rs rs.

B.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Olha a gente aqui 1 mês depois!

Salut, tout le monde!

Finalmente, mais notícias daqui. Fiquei este tempo todo sem escrever no blog porque, além dos dias cheios, que são comuns a todo imigrante recém-chegado, ficamos "ilhados", sem internet e telefone, do dia em que nos mudamos pro nosso apê, dia 1º, até este último fim de semana. Apesar da linha telefônica ter sido liberada pra gente no dia 8, só conseguimos finalizar a instalação no domingo, pois tivemos que chamar um técnico aqui em casa pra ver por que nosso telefone estava mudo. Fritando os ovos, o técnico teve que trocar o fio instalado aqui no apartamento pra que o negócio todo pudesse funcionar. Agora estamos aqui felizes da vida por estarmos novamente conectados... rs.

Amanhã completamos 1 mês aqui e, como já era esperado, achamos que o tempo voou. Parece que foi ontem que saímos do Brasil. Mas a gente sempre achou que aqui em Montréal o tempo tem um jeitão diferente. Temos a impressão de que os dias são mais curtos pela intensidade da vida aqui. Muita coisa acontece em pouco tempo, nos dando a sensação de que aqui ele passa mais rápido.

Durante as duas primeiras semanas, ficamos na casa do João e da Cláudia. Não temos palavras pra agradecer por tudo que eles fizeram por nós e pela forma inigualável com que nos receberam na já muito povoada casa deles. Existem pessoas que parece que nasceram pra sair abraçando todo mundo e tornando outras pessoas parte da família, né? Eles são assim. Resumindo a história, eles são uma família de 4 pessoas que acabou virando uma família de 10. Este foi o número total de pessoas na casa deles neste verão, fora um cachorro (o Buddy, membro da família) e uma gata (a Sara, nossa menina).

No dia 1º nos mudamos pro nosso apê. Foi também o João que nos ajudou com nossa mudança e transportou nossas coisas na van dele. Fora as muitas malas e algumas coisas que fomos comprando pra nossa casa, como panelas, copos, cadeiras etc, havia um colchão, que tínhamos comprado e teve que ser entregue na casa dele, um sofá, que ganhamos de uma amiga brasileira, uma televisão, com que o próprio João nos presenteou, uma escrivaninha e dois racks que achamos na rua* e três caixas de papelão com algumas coisas nossas que ficaram guardadas no storage dele desde fevereiro de 2006, quando voltamos pro Brasil. Foram cinco viagens no total pra conseguirmos trazer tudo aqui pro apê.

Pela foto, já se pode imaginar que ficamos "enclausurados" durante os próximos dias desfazendo malas, faxinando o apartamento e colocando tudo no lugar. Aos poucos fomos comprando as coisas que faltavam e organizando tudo por aqui. No final da semana passada, terminamos a arrumação.

Além disso, já estamos com nosso Numéro d'Assurance Sociale, nosso cartão de residentes permanentes e aguardando a chegada da Carte d'Assurance Maladie, em que demos entrada já na primeira semana aqui. Abrimos conta no Desjardins e até agora estamos muito satisfeitos com o banco. Também fizemos a nossa Carte Accès-services LaSalle, que nos possibilita fazer uso da biblioteca local, l'Octogone, do Aquadôme e ter acesso às pistas de patinação e às piscinas públicas. Nesta semana fomos ao CLE de LaSalle e já nos inscrevemos para um rendez-vous na semana que vem com um conselheiro que vai nos orientar na busca por emprego. Por falar nisso, nesta semana também começamos a mandar alguns currículos e estamos providenciando a tradução dos documentos necessários para a inscrição nas universidades em que queremos estudar. O prazo para as inscrições para a sessão de outono terminou no dia 1º de março, mas alguns cursos ainda estão aceitando aplicações tardias, então vamos ver se conseguimos começar a estudar em setembro, ao invés de janeiro, que é quando a sessão de inverno começa.

Mas nossa vida aqui não está sendo só ralação não! rs No dia 24, dia de Saint Jean-Baptiste ou Dia do Québec, ainda estávamos na casa do João e tivemos um dia maravilhoso. Passamos a manhã/tarde na área próxima ao Natatorium de Verdun jogando vôlei e frisbie e depois fizemos um churrasco no quintal do prédio do João.

Depois de mais de 10 anos sem pegar numa bola de vôlei, lá fui eu ficar com os braços doloridos no dia seguinte.

Churrasco brasileiro meesmo, com direito a farofa, maionese e vinagrete.

Também fomos ao Festival de Jazz em três dias. No primeiro, para ver o show de abertura do Stevie Wonder (gratuito!). Chegamos tarde e tivemos que ver o show de um dos telões instalados na área do festival. Outro dia, passamos a tarde lá e vimos o show do Jesse Dee (gratuito!) e a apresentação de dois percussionistas e uma trapezista. Fantástico! No último dia, chegamos às 17h para o show de encerramento do festival, o do Ben Harper (gratuito!), que começaria às 21h30. Nos "plantamos" na frente do palco e não saímos mais de lá até o show começar, então conseguimos ficar na grade e ver tudo bem de perto! Valeu a pena!

Entrada do festival

Sempre muita gente no festival...

Mais chuva (e não para de chover e fazer frio neste verão de 2009 em Montréal...)

Os percussionistas e a trapezista se apresentavam ao mesmo tempo.

Neste ano, 30º aniverśario do festival.

Era muita gente mesmo, mas tudo sempre organizado, sem empurra-empurra e nenhuma briga.

O Wal desenvolvendo seus dotes "fotografísticos" no show do Ben Harper.

Iéé, a gente tava bem pertinho mesmo! rs

Mais notícias assim que as tivermos!

* É muito comum encontrar diversas coisas na rua nos dias próximos ao dia nacional da mudança, 1º de julho, aqui em Montréal. Muita gente, querendo se desfazer de móveis, eletrodomésticos, monitores e derivados, colocam essas coisas na porta de suas casas para doação. Detalhe: na maioria das vezes, as coisas estão em ótimo estado, novas mesmo, com um arranhãozinho aqui, outro ali. Mas também se vê muita coisa que não tem proveito, é claro.

Bilhete pregado na escrivaninha que encontramos perto da casa do João.

Bises, B.